
Só se tem saudade de algo que foi bom ou nos trouxe algo de positivo.
17 passos para enfrentar uma grande perda:
Muitas situações na vida nos trazem a
sensação de um mal irreparável, geralmente envolvendo perdas ou grandes
mudanças: doenças, morte de alguém, mudança de cidade, de emprego,
condição social, separação, perda de um sonho ou ideal e outras. As
situações mais dolorosas referem-se à perda de um ente querido.
As pessoas ficam com a sensação de terem sido roubadas em algo a que
tinham direito. Passam por um processo doloroso que envolve sofrimento,
medo, revolta, raiva, culpa, depressão, isolamento, desinteresse pelas
atividades costumeiras ou excesso de atividades (fuga); apresentam
sintomas físicos e psicológicos de estresse, podendo até vir a adoecer.
O tempo requerido para o “luto” (fase de maior sofrimento) e a
maneira de vivê-lo depende muito das circunstâncias da perda, o
significado desta para a pessoa, seu modo particular de lidar com
situações de crise, apoio disponível no seu meio familiar e social, como
a comunidade onde vive encara esta perda, suas próprias crenças e
outros aspectos.
A recuperação de uma perda significativa leva de alguns meses a dois
anos e, mesmo aí, alguns aspectos podem continuar não muito bem
resolvidos.
Mas, além da tristeza, as situações dolorosas podem fazer com que
descubramos em nós mesmos forças antes desconhecidas, faz com que
repensemos nossas vidas e nossos valores, passando a perceber o que
realmente é importante e o que é supérfluo, e podem nos transformar em
pessoas mais ricas espiritual e emocionalmente.
Apesar das pessoas sentirem e reagirem diferentemente, existem pontos
em comum nas situações de perda, quando geralmente passam por fases
semelhantes. Quando descobrem que estão com uma doença grave ou isto
acontece com uma pessoa muito próxima, a morte inesperada de alguém que
amam, ou com quase todos os outros tipos de perda, primeiro passam pelo
estágio de choque e negação, não querendo acreditar na realidade. Depois
vem a fase da raiva, revolta (contra tudo, todos e até contra Deus) e
muita mágoa. Mais tarde passam a negociar com Deus e com a vida,
tentando fazer trocas e promessas; depois ficam deprimidos,
perguntando-se “por que eu?”, “por que ele(ou ela)?”ou “por que
comigo(ou conosco)?”.
A seguir a tendência é retrairem-se por algum tempo, afastando-se dos
outros, enquanto buscam alcançar um estado de entendimento, paz,
aceitação; de aceitar aquilo que não pode ser mudado.(E. Kubler-Ross).
Muitos param em determinada fase e não vão adiante na superação da perda
que já aconteceu ou, no caso de doença, vai ocorrer; alguns pulam de
uma fase para outra, podendo retornar à fases anteriores; outros
caminham para a superação. Isto vai depender muito do suporte que
recebem do meio, dos amigos, de terapeutas ou orientadores; do
entendimento que têm sobre a vida e sua finalidade, de suas crenças
filosóficas e/ ou religiosas e outros aspectos.
A Dra Ross estudou também 20 mil casos de pessoas de várias culturas
que passaram por experiências de quase morte(EQM), e notou muita
semelhança no que percebem naqueles momentos de “morte”, as vivências e
sensações são agradáveis e os pacientes percebem que na realidade a
morte não existe, é uma passagem para um plano de vida diferente, como a
borboleta que deixa o casulo. Se começarmos a ver a vida de maneira
diferente, com maior entendimento, veremos que a morte jamais deve
representar sofrimento, mas uma continuação da vida e da evolução.
Seguem-se algumas sugestões que podem ajudar nesta fase difícil :-
1-Fale sobre sua perda e sua dor
Nos primeiros meses muitos têm esta necessidade, deixe que os outros
saibam que este assunto não deve ser evitado e que lhe faz bem falar
sobre isto, abrir-se com alguém de confiança, ajuda no entendimento e na
aceitação. Quando os amigos entendem o processo, percebem que ouvindo e
compartilhando o sofrimento, estão ajudando; e você vai se sentir
melhor desabafando. Entretanto, em algumas situações, ou com algumas
pessoas, quando não quiser falar sobre o assunto, também diga isto
claramente.
2-Enfrente o sentimento de culpa
Quando se perde alguém importante é difícil sentir que se fez o
bastante. Discutir este sentimento com alguém compreensivo e de
confiança vai ajudar a distinguir a culpa real e irreal e, aos poucos,
esta começa a diminuir. Não pode se sentir responsável por não prever os
acontecimentos, ou culpa como se tivesse tido a intenção de prejudicar
alguém. Além do mais, temos que aceitar a realidade de que ninguém é
perfeito, fazemos o possível de acordo com nossa capacidade.
3-Trabalhe os sentimentos de raiva e revolta
Estes sentimentos existem em face de uma grande perda; é importante
percebê-los e expressar os sentimentos de raiva e amargura. Não adianta
negá-los ou envergonhar-se deles, são normais e irão desaparecendo com o
tempo e a aceitação do fato.
4-Idealização
Há uma fase em que a pessoa pensa em suas falhas como pai, mãe,
filho, cônjuge, irmão, namorado ou amigo... e vê a pessoa que se foi
como um ser perfeito. Com o tempo, começará a vê-la como um ser humano
real, com suas qualidades e defeitos, assim como todos nós.
5-Não se isole
Mesmo que não se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento e
prefira ficar sozinho, precisa buscar a companhia de outras pessoas.
Amigos e familiares que o estimem podem ajudar muito. Não se esqueça que
não está só; muitos o estimam, querem lhe dar amor e conforto, assim
como precisam do seu amor e atenção. Isto consola , renova suas forças e
ajuda na construção de novos objetivos e, com o tempo, a recuperar a
alegria de viver. Estas pessoas podem fazer muito por você e você por
elas.
6-Mudança de valores
Diante da morte ou de uma grande perda, a pessoa tende a repensar
seus valores, a reavaliar seus objetivos de vida; deixar de lado coisas
que anteriormente valorizava e que agora percebe que são insignificantes
e/ou fúteis, e a valorizar aspectos que percebe serem realmente mais
importantes. Muitas vezes implementa mudanças positivas na sua maneira
de ser e de viver, tornando-se menos preocupada com o ter e mais com o
SER, evoluindo moral, emocional e Espiritualmente.
7-“Nunca mais serei o mesmo”...
É freqüente haver um grande sofrimento neste pensamento que pode ser
real, mas isto não significa que nunca mais possa ser feliz. Embora esta
idéia possa parecer inaceitável no período do sofrimento, as
transformações podem nos enriquecer. Geralmente é isto que acontece,
quando a pessoa aceita trabalhar e superar a fase de mágoa e revolta,
decidindo que pode e deve viver o melhor possível.
8-Evite decisões importantes ou grandes mudanças
O primeiro ano após a perda, geralmente não é um período adequado
para tomar decisões importantes ou fazer grandes mudanças, a menos que
as circunstâncias o exijam. Uma pessoa amargurada tem a capacidade de
julgamento diminuída. Se algumas mudanças forem necessárias e
inadiáveis, peça a ajuda de alguém competente e não envolvido
emocionalmente com os problemas.
9-Reserve períodos e local para lembranças
Não fique o tempo todo pensando e vendo objetos da pessoa que se foi.
Coloque alguns pertences dela numa caixa ou armário, não os deixe
espalhados.Tente reservar algum período específico do dia (no início),
da semana ou do mês, para pensar na pessoa e no seu luto, quando também
poderá rever os objetos. Evite fazer isto o resto do tempo, pois nada de
bom e útil se consegue com a tristeza contínua. Para algumas pessoas
isto não é fácil de conseguir, mas é necessário à sobrevivência e
recuperação.
10-Prevendo dias e datas difíceis
É útil saber que vai sentir-se mais triste, solitário e infeliz em
certos dias e datas do que em outros, isto mesmo após já ter-se passado
algum tempo e com a vida mais estabilizada. Estes dias especiais
geralmente envolvem datas de aniversário, Natal, passagem de ano, Páscoa
e outros, onde a falta da pessoa se faz mais presente. Planeje
passá-los com amigos ou familiares, pois é provável que fique mais
triste, choroso e deprimido que em outras ocasiões. Não se isole, é bom
que esteja em companhia de pessoas que o estimem.
11-A crença de que a vida transcende nossa estada na terra e num Ser Superior
Desde a antiguidade, a maioria dos povos de todas as regiões do
globo, com culturas e religiões diferentes, acredita na imortalidade da
alma ou espírito e na existência de um Deus ou “Algo Superior”. Isto é
quase que uma intuição que nascemos com ela. Um Ser com Amor
Incondicional e Sabedoria, perfeito e justo, não castiga as pessoas, mas
sempre quer o seu bem, sua evolução, mesmo que muitos de nós ainda não
tenhamos a capacidade para entender o porquê de muitos acontecimentos.
Hoje, mais do que nunca, temos tido provas da imortalidade do espírito e
de que tudo na vida tem um propósito positivo, que nada acontece por
acaso. Mesmo que não seja religioso, esta crença traz consolo. Pensar
que a pessoa não acabou, mas apenas deixou seu corpo e transferiu-se
para um tipo de vida diferente, em outro plano, faz com que as pessoas
sintam-se melhor diante da perda; e significará que a separação é
temporária, não definitiva.
É importante saber que pudemos desfrutar da companhia de algumas
pessoas especiais, mesmo que por breve tempo, que nos deixam muita
saudade...Só se tem saudade daquilo que foi muito bom..
12-Culpa por sentir-se bem
É comum as pessoas não se permitirem alegria após uma grande perda,
não aceitando convites de amigos, ou evitando atividades agradáveis. Não
lute para continuar sendo ou parecendo infeliz. Perceba que sentir-se
contente, ter novos objetivos, não é deslealdade nem significa que não
ama ou está esquecendo o ente querido. Conseguir prazer em algo
significa que está trazendo um pouco de alívio ao seu sofrimento;
retomando ou recomeçando a construir sua vida. Além disso, se a pessoa
que se foi o estima, com certeza gostaria de vê-lo bem e não sofrendo,
preferiria vê-lo contente e isto lhe daria mais tranquilidade. Procure
investir em seu bem estar, engajando-se em atividades produtivas e que
lhe são agradáveis, e poderá tornar sua vida melhor ainda do que antes,
se aprendeu algo com o acontecido, se cresceu com o sofrimento e
compreensão do que é realmente mais importante na vida.
13-Reajuste-se à vida e ao trabalho
Tirar alguns dias ou semanas para reequilibrar-se e, depois, uma
folga ocasional, quando necessário, é perfeitamente normal. Mas as
atividades devem ser retomadas assim que for possível, pois são
importantes no processo de recuperação. Seja paciente consigo mesmo,
porque nos primeiros meses sua capacidade física e mental podem não ser
as mesmas. Deve diminuir sua carga horária ou o número de atividades, se
sentir que é excessiva; mas a inatividade prolongada faz as pessoas
repetirem ou prolongarem a fase depressiva sem nenhum benefício. Com o
tempo poderá também perceber que é importante utilizar um pouco da sua
energia em uma atividade que possa ajudar outras pessoas e/ou
instituições, saindo um pouco de seu pequeno mundo e percebendo a
importância e bem estar que traz ajudar ao próximo, de conseguir tornar
outros um pouco mais felizes e menos carentes física e psicologicamente.
14-Liberte-se de expectativas irreais
Acreditar que a vida deveria ser diferente, não envolvendo escolhas
dolorosas, sofrimentos e perdas é irreal e só traz revolta, o que só
prejudica. Tornando nossas expectativas quanto a nós mesmos, aos outros e
à vida mais realistas, fica mais difícil nos frustrarmos e mais fácil
nos adaptarmos. Ninguém passa por situações que não mereça, por puro
acaso; nem enfrenta uma carga maior do que a que tenha capacidade para
carregar. Saber que não vivemos num mundo desorganizado e que existem
leis universais, “nada acontece por acaso”; tudo tem uma razão de ser
justa e produtiva, nos leva a encarar os acontecimentos (com relação a
nós e aos outros envolvidos), mesmo os mais difíceis, como oportunidades
de aprendizagem e crescimento.
15-Integrando a perda
As pessoas não “têm” que ser “vítimas”, qualquer que seja a perda,
por pior que tenha sido. Situações de muito sofrimento podem ser
transformadas em aprendizado. É preciso deixar de lado as perguntas
centradas no passado (que é imutável) e no sofrimento (“Por que isso
aconteceu comigo”?) e começar a fazer perguntas que abrem as portas para
o futuro:- “Agora que isto aconteceu o que posso e devo fazer? O que
posso aprender com isto? O que posso fazer para Ser e
sentir-me melhor?” Geralmente quando chegamos à fase da aceitação,
atingimos a compreensão e crescemos com a experiência, a dor se vai.
Fica a saudade de uma pessoa com a qual convivemos e que nos
proporcionou bons momentos e ensinamentos, tanto com suas qualidades,
como com seus defeitos; com a qual compartilhamos uma parte de nossa
vida. Só se tem saudade de algo que foi bom ou nos trouxe algo de
positivo. Deve ser mais triste não ter de quem sentir saudade, seja de
uma pessoa deste ou de outro plano.
16-Pesar excessivamente longo
Quando um sofrimento excessivo consome alguém por mais de um ano,
geralmente o problema principal não é a perda em si, mas algum outro
aspecto que precisa ser entendido. Muitas vezes isto ocorre quando havia
uma dependência excessiva em relação à pessoa que se foi, quando a
culpa por algum motivo é um componente muito forte na situação,
problemas emocionais pessoais ativados ou reforçados pela perda ou
outras razões significativas. Amigos, conselheiros ou um psicólogo podem
ser necessários neste caso.
17-Procure ajuda profissional, se necessário.
A maioria dos que procuram ajuda de psicoterapeuta não são doentes
mentais, são pessoas comuns enfrentando problemas, passando por uma
crise e muitas delas sofrendo uma perda. Um profissional da área é
alguém com quem você pode dividir seu sofrimento, sua revolta, seu medo,
suas lembranças dolorosas, sua culpa e seus conflitos; que pode
compreendê-lo e ajudá-lo. As sessões de terapia podem ajudá-lo também a
tomar decisões práticas que o farão sentir-se melhor. Você pode precisar
de apenas algumas sessões, muitos meses para superar a fase mais
difícil, ou mais tempo; tudo vai depender do significado individual da
perda, da maneira como reage às crises e à terapia.
No início do pesar, uma das formas mais comuns de manifestar o
sofrimento é resistir a crescer com ele. A vida pode ser prejudicada ou
fortalecida por uma perda. Ninguém permanece o mesmo. Cada situação é
única e só a própria pessoa pode buscar e encontrar respostas relativas
ao “outro eu” e à outra vida que vão emergir.
Cada pessoa decide se vai ou não crescer com essa experiência dolorosa , e quando.
Maria José G. S Nery- Psicóloga Clínica
Psicoterapia Cognitiva, Transpessoal e Regressiva