domingo, 9 de fevereiro de 2014

Revolucao das Mulheres contra a Ditadura da Beleza!



Durante mais de duas décadas tenho investigado como psiquiatra e pesquisador  da  psicologia,  a  última  fronteira  da  ciência: o mundo onde se constroem os pensamentos e são geradas a inteligência e a consciência. E, apesar de  ser considerado  um autor de  sucesso  e de ter  meus livros publicados em dezenas de países, não me sinto um profissional  realizado,  pois  tenho  enxergado  um  massacre emocional nas sociedades modernas que me vem tirando o  sono  e perturbando  a minha tranqüilidade.

Por pesquisar a mente humana e tratá-la, tenho denunciado esse  massacre sutil e sórdido em congressos nacionais e internacionais.  Agora chegou a vez de escrever sobre  ele.  Preferi escrever  em  forma  de ficção  em  vez  de  produzir  um  texto  de divulgação  científica,  pois  sinto  necessidade  de recriar  imagens inesquecíveis  que  estão na  minha mente.  Imagens  de  pessoas  que dilaceraram seu prazer de viver e sua liberdade.

Cada capítulo  é  um grito  que ecoa  da  minha  alma. Usei  dados reais  na  construção  deste  romance.  Através  de  emoções  intensas  e  de aventuras excitantes, meu objetivo é dissecar um câncer social que tem feito  literalmente  centenas  de  milhões  de  seres  humanos  infelizes  e frustrados - em especial mulheres e adolescentes.

Vivemos  aparentemente  na  era  do  respeito  pelos  direitos humanos,  mas,  por  desconhecermos  o  teatro  da  nossa   mente,  não percebemos  que jamais  esses  direitos  foram  tão  violados  nas sociedades  democráticas. Estou falando  de uma  terrível  ditadura que oprime  e  destrói  a  auto-estima  do  ser  humano:  a  ditadura  da  beleza.

Apesar de  serem mais  gentis,  altruístas, solidárias e tolerantes  do que os  homens,  as  mulheres  têm  sido o  alvo  preferencial dessa  dramática ditadura. Cerca de 600 milhões de  mulheres  sentem-se escravas dessa masmorra  psíquica.  É  a  maior  tirania  de  todos  os  tempos  e  uma  das mais devastadoras da  saúde psíquica.

O  padrão  inatingível  de  beleza  amplamente  difundido  na  TV,  nas  revistas,  no  cinema,  nos  desfiles,  nos  comerciais,  penetrou  no inconsciente  coletivo  das  pessoas  e  as  a prisionou  no  único  lugar  em que não é admissível ser prisioneiro: dentro de si mesmas.

Tenho  bem  nítida  na  mente  a  imagem  de  jovens  modelos  que, apesar de  supervalorizadas, odiavam  seu corpo  e  pensavam em desistir da  vida. 

Recordo-me  de  pessoas  brilhantes  e  de  grande  qualidade humana  que  não  queriam  freqüentar  lugares  públicos, pois  se  sentiam excluídas e rejeitadas por causa da anatomia do seu corpo.

Recordo-me  dos  portadores  de  anorexia  nervosa  que  tratei. Embora   magérrimos,  reduzidos  a  pele  e  ossos,  controlavam  os alimentos  que  ingeriam  para  não  "engordar".   Como  não  ficar perplexo  ao  descobrir  que    dezenas  de  milhões  de  pessoas  nas sociedades  abastadas  que,  apesar  de  terem  uma  mesa  farta,  estão morrendo  de  fome,  pois  bloquearam  o  apetite  devido  à  intensa rejeição por sua  auto-imagem?

Essa ditadura assassina a auto-estima, asfixia o prazer de viver, produz uma guerra com o espelho e  gera uma auto-rejeição  profunda.

Inúmeras  jovens  japonesas  repudiam  seus  traços  orientais.  Muitas mulheres  chinesas  desejam  a  silhueta  das  mulheres  ocidentais.  Por sua  vez,  mulheres  ocidentais  querem  ter  a  beleza  incomum  e  o  corpo magérrimo das  adolescentes das  passarelas,  que freqüentemente  são desnutridas  e  infelizes  com  a  própria  imagem.  Mais  de  98%  das mulheres  não  se  vêem  belas.  Isso  não  é  uma  loucura?  Vivemos  uma paranóia coletiva.

Os  homens  controlaram  e  feriram  as  mulheres  em  quase todas  as  sociedades.  Considerados  o  sexo  forte,  são,  na  verdade,  seres frágeis,  pois só os  frágeis controlam  e agridem  os  outros.  Agora,  eles produziram  uma  sociedade  de consumo  inumana,  que  usa  o  corpo da  mulher,  e  não  sua  inteligência,  para  divulgar  seus  produtos  e serviços,  gerando um  consumismo erótico. Esse  sistema  não  tem  por objetivo  produzir  pessoas  resolvidas,  saudáveis  e  felizes;  a  ele interessam  as  insatisfeitas  consigo  mesmas,  pois  quanto mais ansiosas, mais consumistas se tornam.

Até  crianças  e  adolescentes  são  vítimas  dessa  ditadura.  Com vergonha  de  sua  imagem,  angustiados,  consomem  cada  vez  mais  produtos  em  busca  de  fagulhas  superficiais  de  prazer.  A  cada  segundo destrói-se  a  infância  de  uma  criança  no  mundo  e  se  assassina  os sonhos  de  um  adolescente.  Desejo  que  muitos  deles  possam  ler atentamente  esta  obra  para  poderem  escapar  da  armadilha  em  que, inconscientemente, correm o risco de ficar aprisionados.

Qualquer imposição de um padrão de beleza estereotipado para a licerçar  a  auto-estima  e  o  prazer  diante  da  auto-imagem produz  um  desastre  no  inconsciente,  um  grave  adoecimento emocional.  Auto- estima  é  um  estado  de  espírito,  um  oásis  que  deve ser  procurado  no  território  da   emoção.  

Cada mulher, homem, adolescente  e  criança   deveriam  ter  um  caso  de  amor  consigo mesmos,  um  romance  com  a  própria  vida ,  pois  todos  possuem  uma beleza  física e psíquica  particular e única.

Essa  frase  não  é  um  jargão  literário  pré-fabricado,  mas  uma necessidade  psiquiátrica  e  psicológica  vital,  pois  sem  auto-estima  os intelectuais  se  tornam  estéreis,  as  celebridades  perdem  o  brilho,  os anônimos  ficam invisíveis,  os homens  transformam-se em miseráveis, as  mulheres  não  têm  saúde  psíquica,  os  jovens  esfacelam  o  encanto pela existência.

Em  breve  encerraremos  nossa  vida  no  pequeno  "parênteses" do tempo  que  nos  cabe.  Que  tipo  de  marcas  transformadoras vamos imprimir  no  mundo  em  que  vivemos?  Precisamos  deixar  ao  menos  o vestígio  de que  não  fomos  escravos  do sistema  social,  de que vivemos uma  existência  digna  e  saudável,  lutando  contra  uma  sociedade  que se tornou uma fábrica de pessoas doentes e insatisfeitas.

É  necessário  fazer uma revolução inteligente e serena  contra essa  dramática  ditadura .  Os  homens, embora  também  vítimas  dela, são  inseguros  para  realizá-la.  Essa  batalha  depende  sobretudo  das mulheres.  Neste  romance,  apoiadas  por  dois  fascinantes  pensadores, um  psiquiatra   e  um  filósofo,  elas  empreendem  a  maior  revolução  da  História.  Porém,  pagam  um  preço  altíssimo,  pois  têm  de  enfrentar predadores implacáveis.